Friday, June 22, 2007

Anda

Anda.
Deita-te e suspira.
Sorri.
Deixa-me abraçar-te.
Entrelaçar nossas mãos.
Vou
Ver-te
Adormecer.

Wednesday, June 20, 2007

O abraço

Tinha pensado num abraço logo na primeira noite. Que se descobriu depois que tinham passado de mão dada.
Na noite seguinte (que não foi a seguinte, mas que poderia ter sido), pensou de novo num abraço.
Mas não teve coragem de pedir. Ou achou que não era o momento.
Acreditava que o abraço era a forma de perceber se os corpos se conheciam e se queriam.
Quando se abraçaram percebeu tudo. Que sabia desde sempre. E em que acreditava. E que continuava a acreditar. Apesar de tudo.
Andavam perdidos nas ruas quando aconteceu. Ou melhor, já tinha acontecido antes, mas foi na escuridão da rua e das sensações que tudo se tornou nítido.
Ela disse-lhe que gostava de se deitar na relva. Debaixo das árvores e completar os espaços das folhas ou dos ramos.
Achou estranho. Mas percebeu.
Percebia sempre.
Dançaram até à madrugada dos sentidos. Apuraram-se e desejaram-se.
E despediram-se pouco depois, entre palavras tímidas, beijos e tremores.
E abraçaram-se. Finalmente.

Monday, June 18, 2007

A revolta do Mar

Do mar pouco se sabe. Não se sabe bem para onde vai. De onde vem. Porque galga barreiras e alcança o quase inalcançável.
Tem fome de crescer. Penso sempre. Quer mostrar a sua força. Penso também.
Gosto do Mar de Inverno. Não gosto do Mar de Verão.
Acho que é sempre bom conselheiro.
Pede-nos impulsos. Pede-nos para abraçar os desejos.
Gosto de sentir a neblina matinal. Os farrapos de água que saem das ondas. Duros e Fortes.
Verdadeiros.
Gosto do Mar de Inverno.
É frio. É rebelde. Está revoltado.
Não teme nada nem ninguém.
É livre.
É puro.
Vai e vem ao sabor da Lua.
(Nunca imaginei que fosse a Lua a decidir as voltas do Mar).

Sunday, June 17, 2007

Sentir medo

Sentir medo. Enquanto caminhava em ruas que lhe sabiam a novidade, apesar de até já lá ter estado, sentia que aquilo não podia estar a acontecer. A noite estava muito clara. Demasiado clara. Achava.
Pelo menos sentia-a assim. Transparente.
(Ainda que a tentar mostrar o contrário.
Porque é que a noite nos mostra sempre o seu lado mais verdadeiro?).
Caminhava e respirava o ar diferente que estava em promoção.
(Respirar em cidades diferentes: Que transfusão de sangue divina!).
Caminhava porque não flutuava.
(E a ideia tinha saído daquela harmonia flutuante que o arrepiava).
Ouvia sons que lhe pareciam difusos, ainda que translúcidos. Gostava sempre de sentir o aroma da história de cada cidade. Os olhares. Distantes. Ele preferia focalizá-los na história.
Nas fachadas históricas. Nas pedras gastas das peregrinações turísticas. Gastas de fé.
(Onde está a fé?).
Imaginava cada passo. Cada sorriso. Cada paragem. Cada beijo.
Estava tranquilo. Sentia-se traído. Vivia com essa dualidade empunhando sorrisos e não armas de destruição de construções partilhadas. O vento soprava forte. Estava frio. Ele estava.
Arrepiado. Com o frio. Cortante como um punhal certeiro no sopro do coração.
Era uma viagem no tempo. Afinal, era uma viagem no tempo.
As cores eram diferentes. Até a música era diferente.
Porque é que era diferente? Ele já sabia.
Sabia que a ideia que tinha saído daquela harmonia flutuante que o arrepiava não estava ali. Não estava a ser cumprida. Não podia estar. Imaginou-se um trapezista. A sobrevoar a cidade. No limite. Desiquilibrado. Cairia? Ou lutaria pela Vida? Decidiu lutar. Era um resistente. E acreditava.
Um amigo perguntou-lhe, um dia (é sempre num dia que se fazem perguntas), se nunca tinha sonhado que voava. Ele respondera que não. Não precisava de asas para voar. Nem de sonhos.
Andava a voar há tanto tempo! Achava que desde sempre. E estava decidido. Ia perguntar. Ia deixar frases a meio para que fossem completas. Ia trazer outras histórias para que outras fossem contadas. Não precisava de saber porque já sabia. Mas achava que merecia ouvir. Achava que merecia ouvir. Achava que merecia essa lealdade. Essa sinceridade. Mas nem se preocupava com isso. Essa opção era livre. À saída deixou-lhe a última dica. Voltou a não ser bem sucedido. Lutou. Colou. O abraço (oferecido sem pudor e em segredo) transformou-se em elo final. Ia cair. Se não desse a mão. São assim os trapezistas. E a cidade. A cidade é uma cidade de trapezistas. De circos. De vidas boas. De recordações. De sonhos. De lembranças únicas. De segredos. Outra vez de vidas boas. De jardins e parques. Flores e romances. Cafés. Cigarros. Quartos e suores. Amores e traições. Abraços e Adeus. A partilhar. Ou não. Tanto faz. Interessa a verdade. E o momento.
(Porque é que a noite nos mostra sempre o seu lado mais verdadeiro?)
Porque essa é a certeza. Ser verdadeira. E foi. É de noite.
E foi.
A ouvir Xutos. Num domingo. Depois de uma sexta.
Sei onde tu estás. Era o álbum.
E sei.
E quero saber.
E quero ficar.

Wednesday, June 13, 2007

Sim?

Parámos aqui um dia.
Nao sei se já cá tinha estado.
Sei que sim, mas não quero saber. Nem tanto lembrar.
Há nuvens e castelos que só se sentem uma vez.
Parámos e andámos.
Ou nem parámos.
Agora já não sei se lá estivemos.
Tu estiveste.
Descobri que tinhas estado.
No dia em que fui lá contigo.
Num dia em que lá estivemos juntos.

A La Mort Subite

Brilhante descoberta.
O encanto de saborear uma cidade.
Sozinho.
(de mão dada com o mundo).
Em sintonia com o espírito.
A La Mort Subite!
Estranho.
Sincero.
Absorvente.
Gostei e quero repetir.
(sabemos que assim vai ser).
O dia exigia cama.
A mente exigia sabores.
Saí.
Entrei.
Pedi.
Escrevi.
Gostei.
Porque é que gosto sempre de uma mão dada numa cidade desconhecida?

Tuesday, June 12, 2007

(desde) Sempre

O velho relógio da estação marcava 10:40. Por aí.
A luz (do dia) simbolizava o mesmo.
O sol rastejava para o topo e escondia-se pouco nas ráfias das nuvens perdidas.
Caminhava acelerado. E não estava atrasado.
Era um dia assim.
Parou.
Não estava cansado.
Uma silhueta luminosa tinha-o colocado atento.
Quem és? Pensou.
Recordou-se então de outro final de viagem. Julgava que há quatro anos.
De autocarro. Essa recordação. Essa viagem.
À época, chuva. Dia cinzento. Cores dispersas.
Mas a mesma sensação.
Quem és?
Seguiu-a.
Voltou a entrar na estação. Subiu. Para o comboio.
Só relances. Mas a direcção certa.
Sentia-a cada vez mais perto. Recordou-se dos cheiros de há quatro anos.
Lembrou-se da chuva.
E hoje havia sol.
Que não se escondia.
Começou a correr. Empurrões. Gritos. Quedas.
Serenou.
Tinha-a perdido.
Há quatro anos também.
Saiu do comboio. Em outra estação.
Regressou a pé. Tranquilo. Feliz.
Nunca se perde aquilo que se tem (desde) sempre.

Sunday, June 10, 2007

Tacto

Os olhos fechavam-se e abriam-se com o mesmo ritmo dos corpos. Entregues!
O cansaço era derrotado pelas ávidas energias que brotavam das almas.
Não existe tempo (mas é sempre pouco).
Os sentidos? No apogeu do delírio!
Nunca se faz o que se planeia porque nada se planeia.
Tudo ocorre sem sentido. Sem dúvidas. Só certezas.
A sensibilidade (de que já tinham falado) arrepiava na penumbra.
Havia luz. Mas à distância.
(Inesperada esta nova forma de abordarem os desejos).
De novo os sentidos:
A Audição. Sim. Havia música. Outra vez aquela da recordação (são viagens que se fazem sem temores. “Às vezes desapareces e deixas de saber quem sou. Se calhar, até, deixas de saber quem és”).
A Visão. Bastam os olhares. As explorações enigmáticas de corpos. Desesperados. (Pareceu-lhe).
O Olfacto. Sempre o olfacto. Sempre novas descobertas. (“Conheço-te tão bem”).
O Paladar. Sal. Mel. Açúcar. Uma mescla imperceptível. Mas fiel e leal.
E depois.
Depois o tacto.
“Fica aí mais um bocadinho”.
Até à exaustão. Até sempre.
“Desculpa”.

Saturday, June 09, 2007

Estranha forma de lucidez

Embriagado de novo.
(Deixas-me sempre assim).
Somos nós, acho. Que criamos essa estranha forma de lucidez.
Em que tudo é permitido. Ou quase.
Pediste-me um abraço.
Não recusei. Mas tinha fugido antes. Não sei porquê.
Não sei porquê.
Como se pode recusar um abraço?
Como se pode recusar o silêncio?
Como se pode recusar o calor do teu ventre?
O sabor do teu corpo?
A magia que se desprende do teu peito?
O brilho que os teus olhos emanam?
A harmonia dos corpos enrolados?
A certeza com que apresentas novas ideias e propostas?
(“Não devia ter-te dito isto”.
“Também já te fiz um pedido. E mais intenso ainda”).
Não fugi.
Não fugi.
Nunca quis fugir.
Quero ficar sempre.
E, mesmo quando saio, fico sempre.

Porque é contigo que se fundem os gritos.

Que se perdem os medos.

Que se cruzam os laços.

Que se soletra o verbo ficar.

FICAR!

10

Apenas de um acaso.
Começou assim:
- “Diz-me qual o número da música”.
Já descobrimos.
Calhou ser o 10. Esse emblemático número.
Até já foi um 107.
Hoje. Com a cabeça na matemática de outra recordação da música, foi o 10.
Ficou.
E gostei!
(Gosto sempre).
Porque é que a música nos deixa nostálgicos?