Wednesday, October 24, 2007

Esquisso ou não


“Não há forma nenhuma de se verificar qual das decisões é melhor porque não há comparação possível. Tudo se vive imediatamente pela primeira vez sem preparação. Como se um actor entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que vale a vida se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É o que faz com que a vida pareça sempre um esquisso. Mas nem mesmo «esquisso» é a palavra certa, porque um esquisso é sempre um esboço de alguma coisa, a preparação de um quadro, enquanto o esquisso que a nossa vida é, não é esquisso nem nada, é um esboço sem quadro.”

M.K., A I L D S.

Thursday, October 11, 2007

@ Baku - A Cidade Organizada

Um trânsito caótico e desorganizado o suficiente para ser localmente organizado, com constantes filas de trânsito e paragens naturais no meio das vias caracterizam bem Baku, cidade que recebe sábado o Azerbaijão-Portugal, de apuramento para o Europeu de futebol.
Com quase três milhões de habitantes – uma imensidão para a área da cidade – a capital do Azerbaijão está fortemente marcada pela exploração petrolífera, no aproveitamento directo do imenso e poluído Mar Cáspio, mas mais, sobretudo para os visitantes, pelo trânsito, que roça, amiúde, a irregularidade.
Uma simples viagem de cinco quilómetros pode tornar-se uma dor de cabeça e demorar, na tranquilidade azeri, 30 longos e sonoros minutos, tantas são as buzinas que agitam a frenética cidade.
Com largas avenidas, quase sempre de duas faixas que, logo, se transformam em três ou mesmo quatro, o “palco” de mais um encontro decisivo da selecção portuguesa, clama por desenvolvimento ainda que, seja já notória grande evolução.
Lojas das populares e citadinas marcas que ditam a moda no centro da Europa, restaurantes de luxo, bares e outros locais de “culto” nocturno aceleram o ritmo da cidade que, não tanto à semelhança de Nova Iorque, parece não dormir.
Além de tudo isto, o parque automóvel parece mais ou menos cuidado – as “mossas” ficam para tratar depois – e os autocarros e táxis são autênticas “latas de sardinha”, tal a acumulação de utentes.
Mesquitas, museus históricos – a cidade foi fundada há 1500 anos – e muitos e emblemáticos edifícios ainda “carregados” com as marcas da ex-União Soviética também sublinham a maior cidade do Azerbaijão.
Ainda assim, a cidade fica mesmo marcada pelo trânsito e pela hospitalidade das pessoas que, em última instância, se tornam tão simpáticas ao ponto de exigir um táxi para os portugueses que precisam de encontrar um restaurante que, afinal, ficava a longos… 500 metros.
O Azerbaijão parece ser assim e, hoje, a comunicação social presente teve direito a dois brindes de encher o olho.
Primeiro, em Sumqayit, cidade próxima e na qual a selecção portuguesa treinou, dezenas, senão centenas, de crianças, rodearam o autocarro e, num banho de multidão inédito para os profissionais da comunicação, quase suplicaram por um simples aceno ou cumprimento mais efusivo.
Depois, no regresso a Baku, o motorista, já de si altamente tranquilo, decidiu e bem – porque até se pouparam vários minutos -, entrar numa avenida em sentido contrário, acenando tranquilamente àqueles que lhe buzinavam.
Pouco depois, o mesmo motorista, ávido de um espelho de um “espada” Mercedes, decidiu novamente bem, não deixou entrar o apressado – qual apressado afinal? – e roçou o suficiente para avisar: “Se queres entrar, ficas sem retrovisor!”. E assim foi.
Porém, insatisfeito pelo estrago, o condutor lesado estacionou no meio do trânsito, saltou aos berros para o meio da via e parou as centenas de automóveis que por ali circulavam.
Paragem aqui e mais paragem aqui, discussão e mais discussão, a polícia que vem, mas afinal já não e lá se seguiu viagem… na tranquila e desorganizada o suficiente para ser localmente organizada cidade de Baku.