A Altivez da Morte.

Acordei cedo.
Quase nunca acontece mas, hoje, bem disposto e atento, circulei pela cidade nas primeiras do dia.
É admirável perceber, nas pessoas, os movimentos, os desejos, as expressões que marcam o início de mais uma semana.
É admirável perceber, nas pessoas, os movimentos, os desejos, as expressões que marcam o início de mais uma semana.
Perto do Cemitério de Agramonte, fixei-me por instantes. Ainda mais atento.
A morte e todas as suas subtilezas tornaram-me mais vigilante.
De que se fala, quando de Morte se fala?
Fiquei hesitante. Descobri mais movimentos. Uma romaria. Uma frenética caminhada.
As flores.
Os olhares perdidos.
O desejo de matar saudades.
Matar saudades dos mortos. Duas vezes a morte numa única expressão.
“Matar” e “mortos”.
Por momentos, perdi-me no interior do cemitério, em jeito de viagem funesta.
De sentido (e sentimento) apurado percebi, então, o porquê da romaria.
Porquê as flores, os olhares tristes mas simultaneamente felizes.
Percebi que a limpeza de uma campa, se reveste de capital importância.
Algumas, um banho terno a uma criança.
Outras, um quente banho de amor.
Em outras ainda, um banho indesejado e obrigatório a alguém mais velho.
Percebi que a Morte, mesmo morta, é respeitada.
Da mesma forma que, no culto, os mortos o são.
Mas serão assim na Vida?