Tuesday, July 10, 2007

Mais tempo nas memórias dos lençóis

O Sol bateu-lhe na cara e sem licença instalou-se no quarto que era deles. Acordou. Ela permitiu-se a mais tempo nas memórias dos lençóis. Brancos.
Aproximou-se da janela. Que lhe abria as portas da Liberdade. Uma pequena varanda, em pedra, suportava-o do cansaço da noite.
Sentia-se feliz e determinado. Sobretudo determinado.
As caminhadas do dia anterior. Dos dias anteriores. Tinham sido diferentes.
(Re)Descobrir a cidade sem memórias. Apenas com um pensamento: aproveitar todos os minutos, todos os segundos, todos os suspiros e gemidos. Como se fossem os últimos da vida dele. Das deles.
Acendeu o primeiro cigarro, ainda intoxicado pelos outros da noite anterior. Que tinham sido muitos. De vários sabores.
O fumo encheu-lhe os pulmões. Sorriu. E manteve-se firme.
Em baixo, na rua, os passos continuavam apressados. O cosmopolitismo da cidade deixava-o sereno.
Dentro, no quarto, o sono continuava tranquilo. O dela. A sorrir. Porque sorria sempre quando dormia (Imaginação?).
Acendeu novo cigarro. Antes tinha-se despido por completo. Gostava de fumar nu. De se sentir livre na janela aberta para a Liberdade.
A varanda que lhe suportava o cansaço (das caminhadas?) permitia-lhe a nudez total e despudorada.
Nunca há vergonha na noite. Nunca há vergonha na manhã. Há vergonha? Em não assumir.
O ar da cidade, comprido e profundo, misturava-se com o fumo. Nos pulmões que exigiam mais. No coração que pedia mais.
Ela acordou. Abraçou-o por trás (nos sonhos e desejos é sempre ao contrário). Deixou-lhe, sussurrando, um bom dia tímido mas convicto.
Porque esse era mesmo o desejo. Um bom dia. Uma vida boa.
Ele estava feliz. Ela já suspeitava. Mas nada dizia.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home