Wednesday, May 09, 2007

Janela

Passava horas a olhar para a água.
O desejo era sempre o mesmo: "Quero que acordes e me venhas abraçar. Pensei nisto um dia. E agora conto-te".
(Já fui apanhar alguns jarros. Daqueles selvagens, sabes?)
Depois disso tinha ido regar os amores. Mas, ele, isso sabia. Não precisava de ter ouvido.
Interessava-lhe muito o riso das crianças. Sempre ao longe.
Imaginava conversas em pequenos botes que avistava. Mais perto que os risos das crianças. Os botes.
Essas perdas momentâneas de consciência ainda a faziam sonhar mais.
Afinal, a vida era um mistério.
Numa espiral harmoniosa, o vento musicava a tarde. Que até podia ter sido uma manhã. Se fosse de noite não se via a água. Só o reflexo.
(E talvez não ouvisse o riso das crianças).

0 Comments:

Post a Comment

<< Home