Tuesday, March 06, 2007

Guizos


(...)

- O que é importante não se vê...

- Certamente...

- É o que se passa com a flor. Se amas uma flor que está numa estrela, gostas, à noite, de olhar para o céu. Todas as estrelas estão floridas.

-Certamente...

- Á noite hás-de olhar para as estrelas. O meu sítio é pequeno de mais para te poder indicar onde se encontra. É melhor assim. A minha estrela será, para ti, umas das estrelas. Gostarás, então, de olhar para todas as estrelas... Serão todas tuas amigas. E ainda te vou dar uma prenda...

Riu-se outra vez.

- Ah! Meu pequeno, meu pequeno, como gosto de ouvir esse riso!

-É esta, precisamente, a minha prenda... É como o que se passa com a água...

- Que queres dizer?

- As pessoas têm estrelas que não são idênticas para todas. Para umas, que viajam, as estrelas são guias. Para outras, não passam de pequenas luzes. Para outras, que são sábias, são problemas. Para um homem de negócios, eram ouro. Todas essas estrelas são mudas. Mas tu, tu terás estrelas como ninguém tem...

- Que queres dizer?

- Quando olhares para o céu, à noite, já que moro numa delas, já que me estou a rir numa delas, é como se todas as estrelas se rissem para ti. Tu, tu terás estrelas que sabem rir!

E riu-se outra vez.

-E quando já te tiveres consolado (as pessoas consolam-se sempre), ficarás contente por me teres conhecido. Serás sempre minha amiga. Às vezes abrirás a janela unicamente por prazer... E os teus amigos ficarão muito admirados por te verem rir ao olhar para o céu. Dir-lhes-ás então:"Sim, as estrelas fazem-me sempre rir!" Julgar-te-ão louca.

E riu-se outra vez.

- É como se te tivesse dado, em vez de estrelas, inúmeros pequenos guizos que sabem rir...

(...)


“O Principezinho” de Antoine de Saint-Exupéry.

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