Monday, January 14, 2008

I

Não te quero deixar entrar. És luz. Futuro. Mas também és saudade. E saúde.
“Ouve. Quero dizer-te: É aqui que queres estar comigo? Prometes ser sempre? Assim?”
São raios de luz e imagem. Cadeiras dispersas e ervas em desalinho. Mas a porta que é janela e postigo aberto para o Mundo exige mais de ti.
Ela estava deitada. Ele permanecia sentado. No chão.
O telhado do velho hospital debitava a imagem que lhe manchava a saudade.
Pedrógão Grande. Abreviado para pequeno. Pelo tamanho. Do telhado. E do hospital.
“Já viste?”
“Sim. Já te ouvi.”
“Perguntei se viste.”.
“Já te ouvi”.
Chegava.
O tecto permanecia branco e também o acaso do hospital era branco.
O médico branco era. De idade. De velhice. Do álcool que o consumia. Do álcool do hospital. Do etílico sabor do espaço. Que venerava. Que era dele. E de mais alguns. Como são os espaços pequenos. Sem opostos. Nem oposição. Porque não há oposições a hospitais. Nem oposições em pequenos territórios. E em grandes?
“Como nos deixámos chegar aqui?”.
“Não sei. Mas não era isso que tentámos. O nosso sonho não era esta cama?”.
Depois de outras. Perguntou-se.
De outras camas?
Pensou.
“Era.”,
“Era uma cama. Mas esta?”.
“Não gostas desta cama?”.
“Não”.
“Não gostas?”.
“Não gosto!”.
Ele permanecia no chão. Ela na cama.
“Anda. Anda para o chão”.
“Espera. Que horas são?”.
“Isso interessa?”
“Interessa. Tem de ser hoje. 24. Hoje é dia 24”.
“Anda para o chão”.
“Será no chão. Se queres será no chão. Mas é a primeira vez”.
“Mas será no chão. Eu ajudo-te.”
“É a nossa primeira vez. A nossa. Não somos nós?”.
Nasceu.
A 24 de Junho. Ou de Julho. Já não me lembro.