Saturday, December 22, 2007

Espera

Chama-se James. Espera.
Espera uma companhia para a ópera.
Espera a amiga que ama secretamente. E hoje, entre sons, é O dia. Vai revelar.
Uma dor dilacerante oprime-lhe o peito em cada respiração. Não pode mais adiar.
Procura concentrar-se no que lê e, na cabeça (na dele), soam-lhe sempre as palavras que quer dizer.
Aquelas malditas palavras que lhe custaram tanto dizer quando seis meses atrás a encontrou caída. Não no chão.
Sabia que ela estava diariamente presente.
Era a sua melhor amiga.
Mas não se lembrava de sentir tanto a dor da perda quando percebeu que um dia a poderia não encontrar senão dissesse tudo o que verdadeiramente sentia desde sempre e havia decidido:
Seria hoje e não podia mais adiar e ainda assim tremia e os suores frios que quentes pareciam e assim seriam não fosse serem mesmo frios não ajudavam a acalmar.
“O sexo é o consolo de uma pessoa quando lhe falta o amor.”
(GGM).
Acordou nesta frase.
Na noite anterior. Essa.
A noite antes da ópera (que ópera?). Tinha procurado aleatoriamente a ausência de amor alheio.
Ele. Pensava assim. Em definitivo.
(A solo).
O ruído parou. E a carruagem também. Chegou. Parou. E ele ficou.
Não foi. Nunca ia. Ficava sempre.
Não a carruagem nem ele. Ele foi.
A carruagem também.
Ficaram palavras.
E eles ficaram.
Amigos.

Brilho Âmbar

Os catalisadores das emoções foram o ponto de partida. Aquilo que se sente se diz se sente e nem sempre se diz. Se perto se longe ou se como é. Se foi assim que começou e teima em fortalecer.
Como âmbar. Fossilizar.
“Perpetuar de uma maneira materialista”. Mas como?
Haverá forma menos imaterial que esta?
De imediato recordei.
Também a propósito de um livro. Que não dobra porque permanece Mas porque toca não como sinos mas como harpas que se imortalizam.
“- É como se te tivesse dado, em vez de estrelas, inúmeros pequenos guizos que sabem rir.”. Rir e fazer.
A música, a que propósito, saltava de James para Simon and Garfunkel antes dos dotcom.
Não quero dar novas dimensões a palavras antigas nem oferecer-lhes novos sentidos. Não quero. Nem sei. Muito menos sei.
Mas se conseguir, um dia que seja um minuto até ou um segundo qualquer, pôr ali um bocadinho que seja de Sol.
Fez-se Luz.
Vamos. Aí vamos nós agora por aqui.
Fazer-nos entender. Fazer-me entender. Entender e agradecer.
Pode andar ao contrário. O Mundo.
E pode até a distância estar sempre presente. Não significa estar sempre. Nem perto nem dentro nem fora lado a lado ou em cima em baixo a sul a norte. Muito a norte. Muito a sul. Centro ao centro. À direita!? À esquerda. Pois é! O lado do coração. Dizem. Os que sabem e dizem que sim.
Isto é como música. Intemporal.
That’s the living!

Sunday, December 02, 2007

Beijo

A rua parecia deserta. Era de noite. Frio ou talvez não. Era Inverno e não chovia. Perdidos.
No primeiro beijo.

Fotografia de molin da Colecção do Joe

Corpos

Corpos quase inanimados. Conversas soltas e sem pretensões. Ainda que à luz das velas, altivas, os olhos permaneciam fechados e o tacto (os tactos) parecia suficiente para acertar na escolha das palavras. A ausência, prolongada e doentia e dolorosa, tinha sido rapidamente satisfeita e os corpos, inanimados, quase inanimados, mantinham o contacto e o sabor. O sabor sempre desesperante. Olhos nos olhos e corpo no corpo. A respiração permanecia tranquila. Não tinha sido ofegante. Os espectadores apreciavam. Com espanto. E cada um imaginava a sua história.
Fotografia de Molin da Colecção do Joe