Monday, July 30, 2007

Verão

Verão. E desejos. E vontades e sabores. E já não se sabe que águas cruzam quais.
Água. Frescura. Banhos e delícias. Espuma (de amor) e Sim (depois de uma pergunta).
Apareceste. (Foi mesmo agora).
Há correntes que desaguam. Há ideias que não se concretizam.
Quer-se tempo. Quer-se vida.
Dormir acordado.
Abraços e fobias. Beijos e cansaços. Satisfação mental e desastre físico.
Acordas e sonhas. Dormes e sonhas acordada. (Sim. Sim de novo)
Não se sabe.
Nada se sabe.
Guardam-se conversas para depois e faz-se perguntas de resposta feita.
Depois partilha-se e não se sobe. Não. Não. Tempo.
Aí está o tempo.
Vamos?
Quando?
Sem fugir?
Mas estar e sentir!

Sunday, July 29, 2007

Fado

Sabe a loucura o Fado que há em nós. Sabe sempre a Vida e a Saudade.
A Portugal e Mar. A lágrimas e sentimentos em silêncio.
Sabe a cordas dedilhadas em harmonia e a camas desfeitas pelo Amor.
Sabe a Mundo perfeito e a horizonte com Futuro.
Sabe a sangue que arrepia. E a Luzes que não se apagam.
Sabe-me a mim e a ti.
A Nós. Sempre.

Tuesday, July 17, 2007

Outra vez as cidades, janelas e recordações

Da janela do meu quarto não se via a cidade. Nunca cheguei a soprar nas cortinas e pouco, pouco mesmo, tempo dediquei àquele quarto, que até me pareceu acolhedor.
Como a cidade.
Há locais pelos quais nos apaixonamos à primeira vista, mesmo nunca tendo acreditado muitos nos amores à primeira à vista. (Há, não há?).
As cidades são como as pessoas. Sempre acreditei que sim.
Sempre acreditei que as pessoas são como os locais e, estes, como por quem lá passou.
Esta cidade é como as pessoas. As que lá habitam, mas sobretudo por aquelas que por lá andam.
De férias. A trabalhar. De férias e a trabalhar. Tudo misturado, como são as confusões mentais.
Gosto de cidades e de sinais. Gosto de ficar marcado pelas cidades. Da mesma forma que gosto que as pessoas me marquem. E tento marcar as pessoas. Da melhor ou da pior forma. Às vezes, da pior.
Há cidades perfeitas. Cidades idilicas. Cidades que chamam por nós. Da mesma forma que nós chamamos por elas.
Bruxelas foi, para mim, uma cidade assim. Marcante e entusiasmante.
Pelas amizades que (re) encontrei.
Mas muito pelas ruas do encantamento.
Cada uma delas cheia de história. Cheia de memórias e recordações.
Repletas de vida. De vidas boas. De pessoas felizes.
Uma cidade que nos obriga a entrar. Perceber o conceito e viver.
As cidades, se calhar, são todas assim.
Eu estava disponível.
E gostei.
Da cidade e das partilhas.
Gosto de cidades que gostam de nós.
(Tinha de dizer isto).

Monday, July 16, 2007

Agarrar a luz com um anzol

"Rir é bem melhor que chorar".
Lembrou-se, no imediato momento, das esperas.
Das praias, porque era Verão, e das noites, porque eram quentes.
Recordou-se da paciência do Pescador.
Um pescador enamorado. Pelo mar. Pela vida.
"Há melhor paixão que (saber) viver?".
Depois perdeu-se em histórias que não eram dele, mas que tinham sido. Nessas épocas.
Conversas pela madrugada, às vezes nos finais de tarde, com pescadores que apareciam. Ou ele é que aparecia?
"Gosto deste sossego. A pesca pode ser mesmo o melhor exercício mental".
Acreditou.
E prosseguiu.
Aprendia sempre com os pescadores.
Aprendia sempre com todos.
E.
Depois.
Havia Aquelas pessoas que tinham nascido com dons.
O Dom de fazer bem às outras. Pessoas.
As férias nunca queriam descanso. Exigiam descobertas. Os amigos estavam lá. Mas era estranhos que procurava.
As férias eram descobertas. De outros. Dele.
Procurava. Falava. Sentava-se e nem sempre conversava.
Ouvia.
Desabafos e histórias. Mentiras e Verdades. Quase sempre verdades. Porque até as mentiras são verdades.
Fixou-se, durante minutos que pareceram segundos, num pescador.
O Solitário.
Como ele.
"Como corre?".
"Bem. Acabei de pescar A luz".
Boas férias!

Sunday, July 15, 2007

Praia

O Momento:
Final de Setembro. Ou ainda Agosto ou Julho. Ou mesmo Junho. Até podia ser Inverno. Primavera ou Outono. Outono sabia sempre bem. E Fevereiro também. O Mês. Final de Janeiro.
Desconheciam horas e meses. Dias e segundos.
O Desejo:
Uma praia. E a água. Revoltada. Serena. A Água.
Ondas que vinham. E iam sempre com saudade.
Mares tranquilos que se uniam ao céu. Azul. Como são os céus e os sonhos.
(Mesmo que haja sonhos sem cor).
Não sabiam a hora, mas devia ser final de tarde. Não enganavam os crepúsculos. Esses momentos em que os navegadores conferem a sua posição estimada, comparando a abertura esperada em graus com a observada do horizonte ao astro.
Céu limpo e brisas suaves. Calor humano e ventos que traziam gotas carinhosas, às vezes frias, que arrepiavam, contra os corpos. Quentes.
Línguas enroladas e sôfregas. Abraços que se confundiam e carícias sem destino. Pés que se misturavam e deixavam de ser próprios.
Afagos despreocupados e sedentos de destinatários. Que se desconheciam sempre. Amálgama de sentidos e corpos:
“Não sei que corpo mimo”.
“É o nosso”.
Idas e vindas ao sabor das marés. Risos. E abraços sempre. Uniões.
Desenhos no firmamento. Que se completavam nas cambalhotas que o Amor dá.
Gritos que se confundiam com as juras entre gaivotas.
Sorrisos que se permitiam e perpetuavam.
E marcas.
Marcas na areia.
Marcas de desejos.
De sentimentos e prazeres.
Marcas de movimentos bruscos.
E calmos.
E sempre harmoniosos.
Com ritmo próprio.
Com vida.
Marcas inapagáveis.
Que a maré não levaria.

Equador

Equador é a linha imaginária que resulta da intersecção da superfície da Terra com o plano que contém o seu centro e é perpendicular ao eixo de rotação. Devido à oscilação do eixo de rotação, a posição do equador não é rigorosamente constante, razão pela qual é adoptada, para efeitos geodésicos, uma posição média. O equador divide a superfície da Terra em dois hemisférios: o Hemisfério Norte, ou Setentrional, que contém o Pólo Norte; e o Hemisfério Sul, ou Meridional, que contém o Pólo Sul. O raio do equador é cerca de 6378 km, a que corresponde um perímetro de 40 075 km.

É assim o Equador. Uma linha mítica que divide a Terra, no fundo, o Mundo, em dois.
Mas há Mundos indivísiveis.
Que são inseparáveis.
Capazes de resistir às linhas que os (tentam) afastam.
Incapazes de permitir um limite. Incapazes de tolerar uma força que os repelem.
Os Mundos, quando são bons e desejados, não se separam. Nem permitem.
Aproximam-se e desenham linhas.
Linhas de União.

Wednesday, July 11, 2007

Moinhos do tempo


Passámos neste moinho sem saber. Ou sem o sentir. A ideia era procurar a história numa qualquer maravilha, que já era nossa e passou a ser de Portugal pouco tempo depois.
Recebeste um telefonema enquanto descansávamos.
"Precisam de alguma coisa ou estão só a descansar?".
Respondemos que não precisávamos de nada. Que descansávamos. De quem?
“Ela já conhecia”, disseste-me, atirando que querias a vitória dos “Verdes”.
E não precisávamos de nada mesmo.
Estávamos bem.
Até arrisco que muito bem.
Havia aromas floridos por aí.
“Hummm… estas flores!”
Havia paisagens e campos sem distância.
(Ainda há, não há?)
“Há sempre”, respondeste. A uma pergunta qualquer sem sentido.
Muralhas e imagens para sempre.
Abraços e caminhos até ao fim.
“Vamos correr nestas muralhas. São a nossa história”.
(Pensei agora).
Se formos embora, para onde vamos?
“Vamos por aí. Sabemos sempre onde ir”.
E depois fomos.
E vamos.

Banheira

Depositaste teu corpo na banheira deserta.
Depositei-me em ti.
(Caminhinhos)

Tuesday, July 10, 2007

Mais tempo nas memórias dos lençóis

O Sol bateu-lhe na cara e sem licença instalou-se no quarto que era deles. Acordou. Ela permitiu-se a mais tempo nas memórias dos lençóis. Brancos.
Aproximou-se da janela. Que lhe abria as portas da Liberdade. Uma pequena varanda, em pedra, suportava-o do cansaço da noite.
Sentia-se feliz e determinado. Sobretudo determinado.
As caminhadas do dia anterior. Dos dias anteriores. Tinham sido diferentes.
(Re)Descobrir a cidade sem memórias. Apenas com um pensamento: aproveitar todos os minutos, todos os segundos, todos os suspiros e gemidos. Como se fossem os últimos da vida dele. Das deles.
Acendeu o primeiro cigarro, ainda intoxicado pelos outros da noite anterior. Que tinham sido muitos. De vários sabores.
O fumo encheu-lhe os pulmões. Sorriu. E manteve-se firme.
Em baixo, na rua, os passos continuavam apressados. O cosmopolitismo da cidade deixava-o sereno.
Dentro, no quarto, o sono continuava tranquilo. O dela. A sorrir. Porque sorria sempre quando dormia (Imaginação?).
Acendeu novo cigarro. Antes tinha-se despido por completo. Gostava de fumar nu. De se sentir livre na janela aberta para a Liberdade.
A varanda que lhe suportava o cansaço (das caminhadas?) permitia-lhe a nudez total e despudorada.
Nunca há vergonha na noite. Nunca há vergonha na manhã. Há vergonha? Em não assumir.
O ar da cidade, comprido e profundo, misturava-se com o fumo. Nos pulmões que exigiam mais. No coração que pedia mais.
Ela acordou. Abraçou-o por trás (nos sonhos e desejos é sempre ao contrário). Deixou-lhe, sussurrando, um bom dia tímido mas convicto.
Porque esse era mesmo o desejo. Um bom dia. Uma vida boa.
Ele estava feliz. Ela já suspeitava. Mas nada dizia.

Um livro no colo


Sentada.
Permanecia sentada e à lareira, apesar de ser Verão e não estar cansada.
O livro, às vezes no colo.
Outras a rolhar as centelhas do fogo e a aconchegar-lhe a mente.
Desejava ler e sonhar. Imaginar o que lia e desejar o que sentia.
(Sentir o que desejava tornava-se mais fácil).
Ansiava recuperar tempos e imagens. Sonhos e delírios. E mantinha-se assim.
Vaga. Distante. Mas tranquila. Tudo era inconsciente.
Lembrava-se das manhãs e das tardes. E recordava-se dos pedidos satisfeitos. Das celebrações efusivas. Dos abraços eternos e das noites sem dormir. Das cumplicidades alheias e das mentes perdidas e sem cor.
A preto-e-branco via linhas de fumo e sentia a água. Que era quente e arrepiava.
Chamava sabores e cheiros. Promessas simples e sinceras. Gritos de dor (e de prazer). Palavras que nada significavam ou que tudo diziam.
É para sempre e não é mentira.
O pêndulo já tinha sido alcançado.
A partir de agora era sempre a descer e a comparar. A escalada ao topo já tinha sido conseguida.
Permanecia sentada e à lareira. Era Inverno (da tristeza) e estava cansada.

O livro. Sem páginas. Nem nome.
Tinha 94 anos e recordava os capítulos da vida.

Enquanto houver estrada para andar

As estradas são cada vez mais largas e as distâncias cada vez mais curtas.
Os quilómetros percorridos calcam os dias e as noites.
A distância, curta, torna-se dolorosa. Porque é distância.
E as distâncias doem.
Os sonhos dissipam-se e avivam-se. As memórias funcionam como suporte das mágoas. E acredita-se.
Depois tudo esmorece num só gesto. Tudo o que se acredita cai por terra. E morre.
Mas recupera-se do susto. Das dores e das certezas (que afinal são só minhas).
(É paranóia? Delírio? É certeza? Ou não?).
De noite, há empurrões e olhares de soslaio para as memórias que perduram. As inevitáveis comparações invadem-lhe a mente. Mas acredita-se de novo.
Porque é que se acredita sempre mesmo quando a fé é dolorosa?