Monday, October 30, 2006

A Altivez da Morte.


Acordei cedo.
Quase nunca acontece mas, hoje, bem disposto e atento, circulei pela cidade nas primeiras do dia.

É admirável perceber, nas pessoas, os movimentos, os desejos, as expressões que marcam o início de mais uma semana.
Perto do Cemitério de Agramonte, fixei-me por instantes. Ainda mais atento.
A morte e todas as suas subtilezas tornaram-me mais vigilante.
De que se fala, quando de Morte se fala?
Fiquei hesitante. Descobri mais movimentos. Uma romaria. Uma frenética caminhada.
As flores.
Os olhares perdidos.
O desejo de matar saudades.
Matar saudades dos mortos. Duas vezes a morte numa única expressão.
“Matar” e “mortos”.
Por momentos, perdi-me no interior do cemitério, em jeito de viagem funesta.
De sentido (e sentimento) apurado percebi, então, o porquê da romaria.
Porquê as flores, os olhares tristes mas simultaneamente felizes.
Percebi que a limpeza de uma campa, se reveste de capital importância.
Algumas, um banho terno a uma criança.
Outras, um quente banho de amor.
Em outras ainda, um banho indesejado e obrigatório a alguém mais velho.
Percebi que a Morte, mesmo morta, é respeitada.
Da mesma forma que, no culto, os mortos o são.
Mas serão assim na Vida?

Wednesday, October 25, 2006

Traição Emocional


A Internet é, cada vez mais, a nova ágora das emoções.
É aqui, nesta praça pública, que hoje se expressa a maioria das relações.
As amizades, as paixões, os delitos.
Tudo é permitido, no fórum virtual.
Neste mundo cada vez mais real, muitos se apaixonam e, muitos outros, permanecem intocáveis, respeitando ao máximo as trocas de saberes que por aqui acontecem.
Ora, aqueles que se apaixonam, amiúde por seres misteriosos, para onde caminham?
Não há contacto físico, pelo menos nos instantes iniciais, mas haverá traição?
Onde há envolvimento de emoções, há traição!

Thursday, October 12, 2006

Angola de A a Z...

Amor: os angolanos são dos povos com maior capacidade de amar o próximo.
Baía: A Baía de Luanda é uma imagem para sempre.
Cuca: Que cerveja! Mítica!
Duvidar: De toda a gente. Foi o primeiro conselho em solo africano.
Ernesto Che Guevara Ferreira: Assim mesmo. O nome do nosso segundo "motorista".
Família: Sempre no pensamento. Sobretudo aquela que pelas ruas de Luanda andou.
Gastronomia: Do melhor!
Hóquei em Patins: Proporcionou-me a possibilidade de estar em Luanda.
Indira: Uma das meninas do protocolo. Simboliza a beleza de todas as mulheres angolanas.
Jardins da Assembleia Nacional: A festa de despedida. À grande e à Angolana.
Kuanza: Um rio histórico.
Luanda: A cidade. Linda!
Marginal: Inesquecível. Sobretudo à noite.
Nelo: O "nosso motorista". Dos seres mais fraternos que conheci até hoje.
O Confusionista: Aquele que arma confusão. O Nelo dizia sempre que o angolano era muito confusionista.
Pedro(s): O Figueiredo e o Martins. Dois gandas profissionais. Companheiros do Contencioso.
Quarto: Não era grande coisa. Mas, sempre de porta aberta, nunca fui assaltado. Brilhante!
Ribeiro: Francisco. Grande anfitrião.
Sara Leite: Grande presença. Imensa fobia e stress.
Tivoli: O Hotel. Palco de conversas grandiosas também com o Garcia, o Narciso e o Rodrigo.
Uariquina: A malagueta. Sempre presente e para tudo!
Vítor(es): Tanto o Almeida como o Ventura. Cinco estrelas.
Watt: O coração africano debita energia como nenhum outro.
Xixi: Nem sempre os cheiros da cidade eram muito agradáveis.
Yacht: A viagem para o Mussolo, só podia ser de Iate!
Zé: Um dos empregados do hotel. A par do Jesus, um grande irmão.

(Um texto que escrevi por lá):

“Tudo o que eu te dou, tu me dás a mim”, na música e letra do português Pedro Abrunhosa, podia perfeitamente ser o lema da organização do I Mundial de clubes de hóquei em patins, em Luanda.
Este é, aliás, ou pode bem ser, o lema de quase todo o povo angolano.
Conscientes da importância do desporto para o desenvolvimento cultural e social e ainda determinados a lançar alto o nome de Angola no Mundo, os responsáveis pelo país – e a presença do presidente José Eduardo dos Santos na cerimónia de abertura isso significou – e pela organização do I torneio mundial ofereceram aos visitantes toda da sua incomensurável simpatia e esmeraram-se como quase parecia impossível à partida.
A chegada a Luanda para os mais de 200 convidados para a prova– entre equipas, entidades oficiais e jornalistas -, quase todos eles virgens em ambientes africanos, pode até ser sido um choque tremendo, tal a diferença cultural e social, mas a capacidade de bem receber e o sorriso constantemente esboçado nas faces amáveis contrariaram todas as potenciais primeiras impressões.
Poder-se-á até falar de uma “desorganização organizada”, como lembrou o hoquista Filipe Santos, do FC Porto, mas certo é que por muitas dificuldades ainda visíveis e inerentes a apenas quatro anos de Paz, o mais evidente é o esforço descomunal que todos fazem para que a estadia de tantos desconhecidos seja uma experiência inesquecível.
E como experiência inesquecível, o I Mundial de clubes de hóquei em patins é já uma certeza no panorama da modalidade, caso haja compreensão entre todos, espírito de fraternidade necessário e que daqui se retirem os necessários ensinamentos.
Os portugueses, e Benfica e FC Porto foram os representantes lusos no torneio, talvez sejam aqueles que mais sorrisos, abraços e calor humano receberam, até pela história que une os dois países, mas ninguém pode ficar indiferente à chama que debitam os corações ritmados dos angolanos.
Esta dose necessária de amor ao próximo foi sempre umas das mais badaladas conversas entre as comitivas, porque ninguém, por muito incapaz que seja em aceitar a diferença entre dois seres humanos, pode passar ao lado da tamanha sabedoria de rasgar um sorriso que quase tudo pode apagar.