Wednesday, February 22, 2006

Do baú das memórias: baralhar e voltar a dar


Porque retiram do baú das memórias as mais esquecidas, mas únicas, recordações e lhes tentam dar outra vida, quando os momentos, as pessoas e os acontecimentos são sempre únicos?

Porque sabemos que somos quem somos, mas que, juntos, sentimos que somos apenas quem querem que sejamos? (Um qualquer Outro!)

Não seria tudo mais fácil se, "....Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure"?

Tudo isto a propósito da Liberdade de Ser.

Nunca seremos quem não podemos ser e muito menos que querem que sejamos.

"Há qualquer coisa que não bate certo. Há qualquer coisa que deixaste para trás em aberto", Jorge Palma

Era noite


Era noite. Ela estava dentro do seu carro, estacionada perdida. Perdida depois de uma qualquer desilusão amorosa. Uma grande desilusão.
Aguardava alguém. Alguém que chegaria nunca. Mas que teimava (e ela deixava invadir-se por esses pensamentos) em permanecer obstinadamente dentro de si.

Eternamente?

Olhava em redor, distraída, observando as casas simples, de paredes descascadas pelo tempo. Pouco movimento por ali, pois era uma noite fria. Muito fria. Uma noite fria de quase Inverno.

Foi então que ela, de repente, deteve o olhar na varanda de uma determinada casa, à esquerda. Onde bate o coração.

Uma casa pintada de azul, claro, pequena, humilde. Com vasos pendurados. Com jardim. De pedra. Fria. Gelada. Assim como a sua dor.

Naquele pequeno espaço as luzes estavam apagadas. Como a sua alma.

E havia três crianças em redor de um humilde bolo, com uma pequena vela acesa em cima. Três crianças vestidas de forma simples, com agasalhos rotos e gorros de lã. Os olhos vivos e curiosos brilhavam e sorrisos de anjos inocentes brotavam das suas pequenas bocas. Poucas e tímidas fitas de aniversário amarradas em cima da porta completavam aquela linda festa de aniversário. Elas cantavam "parabéns a você", com vozes muito altas, castigando as pequenas mãos com palmas empolgadas.
De qual delas seria o aniversário? De uma delas seria decerto. De outra, aproximava-se também o dia do aniversário.

A dor apertou. A recordação aumentou de aniversários em parceria, ainda que distantes.
Então, ela sentiu um soco no estômago e um nó na garganta.

Como uma violação num beco sombrio.

A força arrebatadora de uma violação e de uma traição.

Segurou as lágrimas nos olhos e esboçou um leve sorriso emocionado. De lábios trémulos (as recordações, as boas, são sempre assim). Uma mistura de sentimentos. A simplicidade daquela cena tocou-a com mãos de sonho.
Sentiu vontade de ser como aqueles bonitinhos, que tinham ainda a capacidade de viver a verdadeira magia, o sonho, a fantasia.
Numa noite fria, num casebre muito pobre, diante do bolo mágico e da amizade profunda que une as crianças que ainda são anjos.
Quem ela esperava acabou por não chegar. Não faz sentido regressar-se quando, de facto, nunca se saiu.

Os amores sublimes são assim.
Como a história do menino de um piano: De uma nuvem, fez o mar e partiu. Nos sonhos pode ser assim…

Pele


Quem foi que à tua pele conferiu esse papel
De mais que tua pele ser pele da minha pele?

David Mourão-Ferreira

Tuesday, February 21, 2006

ALMA SENTIDA


Alma Sentida!
Um espaço de devaneio.
De estórias e História.
De sentidos.
De sentimentos.
De Amor.
Da Amizade.
Da Liberdade de Ser.